Em audiência pública proposta
pela deputada Cristiane Dantas (PPL), o tema “Violência gerando transtorno
mental” foi debatido na tarde desta segunda-feira (14), na Assembleia Legislativa.
A discussão aconteceu, principalmente, em torno das graves consequências que a
violência tem gerado à saúde mental e à qualidade de vida da população em
geral, vítima da insegurança, como também aos agentes de Segurança Pública,
constantemente expostos ao perigo no exercício da profissão.
“A relação entre violência e
doença mental é direta e constitui um sério problema de Saúde Pública. Conviver
numa condição de iminentes ameaças pode provocar transtornos mentais, como
ansiedade, síndrome do pânico, depressão e intenção suicida”, esclareceu
Cristiane Dantas.
Para a parlamentar, a questão
norteadora do debate seria “o que é possível fazer para prevenir e buscar
soluções eficazes no sentido de minimizar os danos da violência, estresse e
ansiedade à saúde mental das pessoas”.
A representante da Associação de
Psiquiatria do RN, Dra. Patrícia Cavalcanti, relatou que as consequências do
crescente clima de insegurança no Estado são constantemente percebidas nos
consultórios e ambulatórios.
“A população está sendo cada vez
mais acometida por transtornos relacionados à sensação de vulnerabilidade
causada pela violência. Essas doenças mentais, a exemplo da depressão e do
transtorno de estresse pós-traumático, já atingem 10% dos potiguares. Isso
acaba gerando faltas ao trabalho, afastamentos, maior uso de álcool e drogas e
aumento da própria violência, devido à irritabilidade constante”, revelou a
psiquiatra.
A médica abordou ainda algumas
maneiras de se prevenir tais males. “Primeiro vem a prevenção à violência. É
preciso melhorar a Segurança Pública, e uma das formas de se fazer isso é dando
melhores condições de trabalho aos policiais. Depois vem o acolhimento às
vítimas e a tentativa de evitar que elas passem por novos eventos traumáticos.
Em terceiro lugar, vem o tratamento adequado e com profissional capacitado”,
informou.
Segundo o Diretor Técnico do
Hospital Psiquiátrico São Camilo, localizado em Mossoró, Daniel Lima Sampaio,
cada vez mais pessoas vem tentando suicídio no RN. “A ponte Newton Navarro
aparece direto nos noticiários, não pela sua beleza arquitetônica, mas pelos
crescentes casos de tentativa de suicídio”, exemplificou o diretor.
Já Paoulla Maués, delegada e
presidente da ADEPOL (Associação dos Delegados de Polícia Civil), informou que
os agravos de saúde mental têm sido determinantes para os afastamentos de
agentes de segurança pública no RN. “No ano passado, a polícia civil teve 375
licenças relacionadas a saúde mental, um impacto de 30% do efetivo”,
esclareceu.
“O papel da ADEPOL nesta
audiência é também o de voltar a atenção da população aos profissionais da
Segurança e dizer que precisamos de cuidado mental e físico, porque somos nós
que cuidamos de vocês o tempo todo”, argumentou a delegada.
A educadora física e idealizadora
do projeto social “Mais Vida”, Leila Maia, contribuiu como defensora da
atividade física para melhorar a qualidade de vida não só dos policiais, mas de
toda a população.
“Se as pessoas não encontrarem
uma maneira de externar o estresse através do exercício físico, será no álcool,
na comida, em seus familiares. A atividade física é importante não só para a
saúde corporal, mas principalmente mental e espiritual”, argumentou Leila.
A respeito do seu projeto social,
Leila disse que o programa “Mais Vida” teve, em sua primeira temporada, 150
participantes. “Durante 30 dias, nós realizamos atividades físicas
diversificadas, trilhas ecológicas e ações de melhoria de saúde física e
mental. Havia pessoas prestes a cometer suicídio, mas que hoje estão mais
equilibradas e, inclusive, ajudam outras através de projetos voluntários”.
Por fim, o psiquiatra Emerson
Nunes, Diretor Médico do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), relatou a
importância de a população ir atrás e usufruir dos serviços médicos que tem à
disposição, na área da saúde mental, seja nos CAPS (Centro de Atenção
Psicossocial), seja nos Postos de Saúde.
“Além de abrir portas para novos
convênios e atendimentos, precisamos garantir o acesso da população aos
serviços que já existem. É preciso que se busque mais ajuda. Temos que aumentar
a interlocução, para que a violência não maltrate mais ainda nossa população”,
concluiu Dr. Emerson.