Com o intuito de aproximar a população
do objetivo da campanha “Julho Verde”, de estimular o desenvolvimento de ações
educativas voltadas para as políticas públicas de saúde, bem como de traçar um
diagnóstico da nossa rede de atendimento e de cobrar ações mais eficazes na
prevenção do câncer de cabeça e pescoço, a Assembleia Legislativa promoveu
audiência pública, na tarde desta segunda-feira (10), por iniciativa da
deputada Cristiane Dantas (PC do B).
“As
estatísticas desse tipo de câncer são preocupantes. De acordo com o Instituto
Nacional de Câncer (INCA), o câncer de boca é o segundo tipo mais frequente
entre os homens, chegando a cerca de 18 mil novos casos por ano, no país. Entre
as mulheres, tumores malignos na tireoide são os campeões, ficando em quinto
lugar no ranking geral do instituto”, alertou a parlamentar.
A deputada
ressaltou também a importância do estreitamento de laços entre as secretarias
municipais e a secretaria estadual de saúde, a fim de que os pacientes sejam
encaminhados ao tratamento com a maior celeridade possível.
O
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
(SBCCP), Dr. Luís Eduardo Barbalho de Melo, informou que, nos últimos dois
anos, nós tivemos 220 casos de câncer de boca, língua, cordas vocais e
garganta, com a ocorrência de 75 mortes (o equivalente a 33%).
“O Câncer de
Cabeça e Pescoço não deve ser entendido como uma pena de morte. Temos pessoas
na plateia que se curaram há 5, 10, 20 anos. Mas a saúde tem que chegar pra
todos, não só para os que têm condições financeiras. Nós temos municípios com
uma (1) consulta por mês de oncologia, apenas. Então é preciso que os gestores
conheçam o perfil epidemiológico da sua região, a fim de cuidarem melhor da
população”, disse o médico.
O doutor
Rostand Lanverly de Medeiros, cirurgião de cabeça e pescoço da Liga Contra o
Câncer, fez uma explanação sobre um dos mais prevalentes câncer da cabeça e
pescoço, que é o de laringe. “Essa é uma doença mais predominante nos homens (6
para 1), em que a idade média para o diagnóstico é de 60 anos. Sua
representatividade é de 2% de todos os cânceres que atingem o corpo humano e de
25% dos cânceres de cabeça e pescoço”, esclareceu o médico.
Além disso,
ele informou que, dos pacientes com câncer de laringe, 83% são considerados
curados, o que se torna possível, principalmente, com o diagnóstico precoce. O
cirurgião completa que “cigarro e álcool são os principais inimigos. O cigarro
sozinho aumenta as chances de contrair a doença em 10 vezes. Com cigarro
associado ao álcool, a chance de ter câncer de laringe sobe para 25 vezes. O
médico alertou, ainda, para os sintomas de rouquidão, dificuldade de engolir,
dificuldade de respirar e nódulos no pescoço, que podem levar o paciente ao
diagnóstico de câncer de laringe.
A
representante da Secretaria de Saúde de Natal, Dra. Sulene Cunha Souza
Oliveira, médica oncologista, destacou a importância da prevenção primária, com
medidas educativas, e frisou que a secretaria tem pactos com a Liga Contra o
Câncer, o Hospital do Coração, o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e o
Hospital Varela Santiago, porém os recursos ainda são insuficientes para
promover maiores parcerias com outros municípios do estado.
A
fonoaudióloga da Liga Contra o Câncer, Maria Alice Cavalcanti, explicou que a
atuação dos profissionais da sua área acontece no pré e no pós-operatório. “Nós
conversamos previamente, damos as informações ao paciente de como será a
reabilitação e o tratamento pós-operatório e, 20 dias após a cirurgia, já
recebemos o paciente e programamos a sua terapia”.
Maria Alice
esclareceu que “a cirurgia de retirada das cordas vocais causa muito impacto na
vida do paciente. Ele sofre muito preconceito, porque a doença é visível, então
há um problema emocional e físico. Por isso, o paciente necessita não só da
fonoaudiologia, mas de uma equipe multidisciplinar, com psicóloga,
nutricionista, assistente social, enfermeiros etc”. Além disso, ela destacou a
possibilidade do paciente voltar a falar após o câncer de laringe, com a voz
esofágica, a laringe eletrônica e a prótese vocal.
Cosme Pereira
dos Santos, que faz parte do coral Voz do Amor e possui prótese vocal, falou,
emocionado, que só os pacientes sabem o quanto é difícil ser diagnosticado com câncer
e agradeceu muito a Deus e à equipe da Liga Contra o Câncer por hoje poder
falar e participar do grupo. Todos os outros pacientes que contaram suas
histórias de vida deram uma lição de superação e demonstraram sua alegria pela
recuperação, além da gratidão à toda a equipe da Liga Contra o Câncer, que os
ajudou a continuar suas vidas da melhor forma possível.
Além da
deputada Cristiane Dantas (PC do B), propositora da audiência, estiveram
presentes o deputado Hermano Morais (PMDB), que destacou o “Julho Verde” como
uma iniciativa importante para garantir mais informação para a população,
melhores cuidados preliminares e tratamento mais rápido, e o vereador Aldo
Clemente (PMB), que ressaltou a importância da legislação municipal no apoio à
causa.
Texto: AL/RN
Fotos: Ney Douglas.